ENCONTRO PIBID/UNISC - NOVEMBRO 2015
MUROS DAS MEMÓRIAS: A VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO COLETIVO NO SUBPROJETO DE HISTÓRIA E SOCIOLOGIA - PIBID-UCS
Anay Camargo Rodrigues
Laura Bossle Carissimi
O presente resumo apresenta o relato e um balanço com atividades que envolveram trabalhos com a cultura dos jovens, enquanto conjunto de significados e comportamentos construídos pelos diferentes contextos sociais e culturais dos quais participam e que enriqueceram o processo de construção do conhecimento. No âmbito escolar, as particularidades não têm espaço e os alunos, que deveriam ser os atores do processo de educação, são meros receptores, deixando guardadas as suas experiências, hábitos e culturas, renunciando também à consciência de que aquele ambiente é parte integrante de sua identidade a partir do momento em que os mesmos atuam, ainda que de forma involuntária nessa construção social. Frente a isso, o processo de Educação Patrimonial em que o Projeto Interdisciplinar de História e Sociologia da Universidade de Caxias do Sul atuou, propiciou uma via de abordagem que diferiu da imposição vertical e admitiu metodologias que valorizassem todos os agentes envolvidos, seus costumes, suas vivências e suas relações interpessoais na construção de um patrimônio coletivo, o que fez com que os estudantes e a comunidade em geral percebessem a sua casa, sua escola, o seu bairro como patrimônios culturais pertencentes à sua história. A depredação do patrimônio na escola Estadual de Ensino Médio João Triches foi um fenômeno observado após pesquisa qualitativa realizada pelos bolsistas do PIBID-UCS. A escola se localiza na região norte da cidade de Caxias do Sul, nas proximidades do bairro Pio X. Por ser uma escola com localização central da cidade atende alunos de diversos bairros. Recebendo diferentes grupos, constatou-se nessa pesquisa que a depredação do patrimônio escolar se manifestava por meio das constantes pichações nas paredes e classes, cadeiras, mesas e portas quebradas, bem como, através de tantos outros tipos de violência contra o espaço físico. Vale ressaltar que essa depredação aqui mencionada era praticada de forma intencional e voluntária por parte dos alunos, na tentativa de personalizar os espaços de convivência. Concluiu-se que os adolescentes não se sentiam pertencentes ao ambiente escolar, que as pichações que surgiram nas paredes da escola estava vinculada como uma forma de linguagem e de identidade, expressando de algum modo seus grupos pertencentes. O presente projeto objetivou a prevenção da depredação do patrimônio escolar, promovendo o sentimento de pertencimento entre os agentes da comunidade escolar. Intentou também transformar o espaço físico de convivência dos educando contemplando a multiculturalidade, promovendo o diálogo entre os pares. Portanto, o aporte teórico que embasou o projeto Muros das Memórias aprofundou os estudos das multiculturalidades, identidade e memória, dialogando com a realidade do aluno, desmistificando as culturas periféricas marginalizadas na sociedade (Bourdieu, 2000), além de contemplar a Pluralidade Cultural como Tema Transversal, expresso nos Parâmetros Nacionais para a Educação Básica (Brasil, 1998) e na visão de SIlva e Brandim (2008, p.59) que afirmam que “uma proposta educacional e curricular multiculturalista é importante na medida em que reconhece o valor da pluralidade e a diversidade cultural, bem como a necessidade da formar para a cidadania com base no respeito às diferenças”. Num primeiro momento, o projeto reconheceu as multiculturalidades no âmbito escolar, valorizou e incorporou as identidades na prática docente. O conceito de identidade de que também embasou este trabalho e foi abordado sob a ótica de Tomaz Tadeu Silva e Stuart Hall proporcionou ao grupo desenvolver o processo de significação e atribuição de valor que está diretamente relacionado às formas como os sujeitos se inserem nos contextos culturais. Tendo como suporte o conceito de memória, Nora (1993) vincula os lugares de memória como uma resposta à necessidade do indivíduo de se identificar com grupos “regionais” étnicos, de gênero, de gerações, entre outros. Foi importante para o educando compreender que as memórias individual e coletiva constroem a nossa identidade assim como a de um grupo. É a partir da interação com o outro e das relações com o meio que construímos o nosso sentido de pertencimento: “Compreender o papel da memória dentro das diversas sociedades permite indagar sobre o momento em que ela deixou de ser individual para tornar-se coletiva” (CANO;OLIVEIRA; ALMEIDA; FONSECA, p.80, 2012). Na tentativa de resgatar a memória individual e coletiva, o grupo Interdisciplinar PIBID -UCS propôs aos alunos do 2° e 3° anos do Ensino Médio Politécnico, a coleta das memórias, a partir de cinco eixos norteadores, dentre eles: jogos e brincadeiras, receitas de família, viagens da escola, histórias de família e memórias do grupo social a que pertence. A metodologia consistiu na produção de zines,que é um formato mais atrativo para a faixa etária, procurando fugir do método tradicional do historiador em transcrever as memórias. Os alunos criaram páginas com desenhos, pinturas, imagens e outros elementos que ilustraram essas memórias. Posteriormente, escolheram entre os integrantes de cada temática o layout que faria parte do muro das memórias. Ainda dispondo das habilidades dos alunos, promovemos intervenções artísticas nas dependências da escola, através de pinturas, grafitagem, entre outras expressões. O grupo deparou-se com os custos das ações e por isso, foi convocado o Grêmio Estudantil, o CPM e a equipe de professores com o objetivo de promover uma gincana, no qual uma das provas seguiu na pontuação na arrecadação de spray, tintas, rolos, pincéis, pigmentos, extensores de rolos, entre outros. Após a coleta dos materiais, foi possível efetivar a etapa da arte nos muros. Concluímos com essa proposta que a escola ainda não está preparada para acolher e promover a multiculturalidade que existe no ambiente escolar. Percebeu-se que a escola reforça um ambiente de exclusão e marginalização das culturas periféricas, não conseguindo dialogar com os temas transversais propostos nos DCN’s, deixando de promover a cidadania, o espaço para o diálogo, a problematização do contexto social que faz parte da realidade do aluno. Porém, através do estudo da realidade escolar, foi possível identificar os fatores que provocavam a depredação do patrimônio presente como problema na escola e através da memória individual e coletiva, fazer com que a comunidade escolar fosse co-participativa, de diferentes formas, nesse processo. Essa colaboração formou uma cadeia de ações positivas em que todos foram fundamentais para o processo.
Palavras-chave: Multiculturalidade. Identidade. Memória.
Referências
NORA, Pierre.Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História. São Paulo: PUC-SP. N° 10, p. 19. 1993.
HALL, Stuart. In: Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Tomaz Tadeu da Silva (org). Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. P.103-133.
SILVA, Tomaz Tadeu da. In: Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Tomaz Tadeu da Silva (org). Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. P. 73-102.
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